segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Capitania de Itamaracá


Capitania de Itamaracá foi uma das quinze divisões originais do território brasileiro entregues a donatários em regime de hereditariedade. A capitania foi doada a Pero Lopes de Sousa, em 1534. O território da capitania estendia-se desde a linha imaginária de Tordesilhas até a costa, tendo como limite norte a Baía da Traição (Paraíba) a Igarassu (Pernambuco). Foram capitais da capitania as cidades de Itamaracá e Goiana.
Pero Lopes de Sousa colocou à frente da capitania o tenente João Gonçalves, que ocupou a ilha da Conceição, onde fundou a vila Marial. Entretanto, no continente viviam os índios potiguaras que impunham muita resistência aos colonizadores e também franceses traficantes de pau-brasil. Os índios e os franceses eram aliados, pois entre eles havia uma relação mercantilista, ao passo que os portugueses representavam a ameaça de escravização. Eram frequentes os ataques aos habitantes portugueses da região e da capitania de Olinda, de Duarte Coelho.
O donatário da capitania veio a falecer dois anos após receber a capitania. Como não foi cumprida a cláusula da Lei das Sesmarias, as terras voltaram ao patrimônio da Coroa, tornando-se devolutas. O domínio do território pelos potiguaras era uma ameaça à segurança dos colonizadores.
O fim da capitania de Itamaracá foi precipitado pelo episódio conhecido como Tragédia de Tracunhaém, ou chacina de Tracunhaém.
Encontrando-se abandonada por seu donatário, a capitania foi extinta e foi criada a capitania da Paraíba em 1574, a qual só viria a ser instalada em 1585 com recursos enviados diretamente de Portugal para evitar mais invasões francesas e repelir ataques dos tabajaraspotiguaras e assegurar a conquista do norte do Nordeste brasileiro. No entanto muitos exportadores luso-nordestinos da Paraíba e Pernambuco expandiram suas atividades para a capitania e Elias Erckmann no século XVII em uma crônica para o Instituto de Utretch (Países Baixos) descreve a capitania como uma província da Nova Holanda entre as duas já citadas (o que coloca em xeque a teoria da extinção da capitania já no século XVI). Além disso, praticamente duas décadas antes em uma obra diálogos da grandeza do Brasil encontrada nos arquivos de Lisboa, o autor nos diz que a Paraíba era um distrito da capitania de Itamaracá e foi separada desta por que sua conquista foi feita com o dinheiro do rei de Portugal e não com o capital do donatário de Itamaracá, o que colocou o distrito da Paraíba como soberano e elevado a categoria de capitania real com sede numa cidade real. Esse evento fragilizou Itamaracá que se tornou menor que seu antigo distrito e décadas depois da expulsão holandesa o mesmo facto se mostrou factor crucial para esta desaparecer da geopolítica do Nordeste Sulamericano, reduzida ao nordeste pernambucano e com sua soberania destruída (ao contrário do que houve com Alagoas, Sergipe e outras comarcas de capitanias mais antigas que conseguiram a soberania).

[editar]A Polarização da Capitania

Enquanto o Sudeste da Capitania prosperava com a indústria de exportação da sacarose, o Nordeste da mesma permanecia controlada pelos nativos e por mercadores anglo-franceses (majoritariamente normandos e bretões étnicos do norte e noroeste francês com forte cultura capitalista-mercantil da Liga Hanseática e Mar do Norte). Essa divergência dentro da mesma capitania fazia com que Itamaracá fosse uma espécie de divisa de facto entre os domínios ibéricos e os domínios do Canal da Mancha em asociação com os Potiguaras Originais (ainda com alto grau de pureza americóide étnica na altura). O Nordeste da Capitania somado ao Sudeste da Capitania do Rio Grande e pequeno pedaço do oeste setentrional da capitania de Pernambuco seriam o embrião da Paraíba (que logo passaria a decadente São Vicente na exportação de Sacarose em poucos anos após sua conquista pre-neerlandesa pelos espanhóis pós-Filipe II), enquanto o seu Sudeste seria anexado ao Nordeste pernambucano (no entanto muitos mapas históricos de procedência germânica do século XVII ainda mostram Itamaracá entre PE e PB mesmo após as guerras neerlandesas). O entendimento da história de tal capitania se torna portanto crucial no entendimento das razões que levaram os espanhóis a investir na conquista da Paraíba (marco inicial da conquista da costa entre o Sudeste de Itamaracá e a Amazônia Ocidental posteriormente tendo como base a conquista da costa setentrional). Um processo geo-histórico que oficialmente se inicia em 1585 (mesmo com outras tentativas portuguesas anteriores mal sucedidas), mas só acaba séculos depois com os tratados das guerras e alianças do século XVIII, garantindo a posse inclusive de territórios conquistados indirectamente pelos portugueses (expansão luso-guarani dos bandeirantes de São Vicente, que começa justamente logo após esse marco espanhól rumo a conquista da costa Norte). O entendimento dessa expansão leva também as razões que levaram Portugal a dividir suas colônias em Brasil e Maranhão-Grão Pará, tal como o por que de mais da metade do territorio do Brasil ter sido conquistado directamente pelos portugueses e não apenas por bandeirantes com vasta experiência nos campos abertos do Cerrado, mas com pouca experiência na densa selva amazônica, tal como a garantia de recursos naturais imensos que hoje geram superávits na balança comercial e garante ao país entrar em seletos grupos a exemplo do BRIC, mostrando empiricamente que a história territorial das capitanias mais cruciais não está assim tão distante do nosso presente e futuro quanto a historiografia tradicional nos tenta passar.

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