quinta-feira, 28 de junho de 2012

A questão da data de fundação e fundador Autor: Altair Fernandes

Originadas de uma banda trazida por D. João VI para o Brasil em 1808, as corporações musicais civis se multiplicaram, ainda no século XIX, pelas vilas, povoados e cidades do país. Participando de acontecimentos políticos, religiosos, cívicos e sociais, elas se apresentavam com a formação,  disciplina e a organização das bandas militares.   Uniformizados, de sapatos engraxados e quepes na cabeça, seus músicos desfilavam pelas ruas ao som de dobrados e depois iam se posicionar no coreto da praça principal, para brindar o público com a execução de  xotes, valsas,choros, maxixes e outros ritmos. Com a Corporação Musical Euterpe está prática não foi diferente no início de sua existência. O tempo passou. Músicos passaram pela banda e se foram, mas a Euterpe, não. Ela  permanece. Viva e ativa, continua se apresentando para as gerações que se sucedem ao longo dos 185 anos de sua criação.  A retreta na praça ainda faz emocionar tanto os saudosistas quanto os mais jovens, mas não menos sensíveis às mensagens harmoniosas da boa música. 
A data de fundação
No que diz respeito à data de fundação ou criação da Corporação Musical Euterpe, além do programa comemorativo ao seu primeiro centenário, registrado na edição de 30/8/1925 do Folha do Norte, jornal que circulou em Pinda-monhangaba na primeira metade do século XX, vamos encontrar na 2ª série de 'Vultos de Pindamonhangaba', livro de crônicas publicado por João Martins de Almeida (Gráfica Editora Tupi, Rio de Janeiro-RJ, 1968), uma citação deste autor que reforça o 1825 como ano de origem desta banda.
O cronista Martins de Almeida, jornalista e poeta apaixonado pela história da 'Princesa do Norte', que hoje seria 'Princesa do Cone Leste paulista', inicia o artigo intitula-do Banda "Euterpe", na obra acima mencionada, afirmando que "a banda musical Euterpe foi fundada em 1825, conforme comprova antigo número da revista O Malho, exposto pelo Sr. Agostinho San Martin em uma das vitrinas de seu estabelecimento comercial, por ocasião do 250º aniversário de Emancipação Política de Pinda-monhangaba." O Agostinho San Martin citado, acrescente-se 'Filho' ao sobrenome, era filho do casal  Agustin San Martin Aldea e Bárbara Martin Carrete-ro, casal de espanhóis que se estabeleceu em Pindamonhan-gaba em 1901. Agostinho, que foi comerciante (bar, padaria, lanchonete, sorveteria e bom-boniére), industrial, construtor, vereador e até inventor neste município. Agustin era um dos guardiões das 'histórias da Princesa'. Daí o fato de ter exibido em seu estabelecimento comercial a tal publicação em 1955 (fazendo as contas com base no 250º aniversário de Pinda-monhangaba citado por Martins de Almeida)
 'Banda João Pimenta'
Retornando à crônica de Martins de Almeida e ao tema principal. No mesmo artigo, ele fala das reorganizações que possibilitaram a sobrevivência da banda, como a de 1848,  quando o músico João Batista de Oliveira, conhecido por João Pimenta, "aumentou o número de seus componentes e adquiriu mais instrumentos a ponto de ficar denominada 'Banda João Pimenta'". Informação esta que nos remete a outro 'guardião das histórias da Princesa', Athayde Marcondes. Em sua imprescindível fonte 'Pinda-monhangaba Através de Dois e Meio Séculos' (1922), Athayde faz referência à 'Banda Musical  João Pimenta' da seguinte forma: "Com este título fundou-se nesta cidade, em 1848, a primeira banda musical sob a competente direção de João Batista de Oliveira, conhecido por João Pimenta." 
Os componentes da Banda João Pimenta e suas respectivas funções ou instrumentos que tocavam, segundo o pesquisador Athayde, eram: João Pimenta - diretor e mestre de capela; Benedito Gomes - rabeca; Antonio Paula - pistom; Flávio - trombone; Antonio Joaquim de 'Nhá Freira' - trombone; Anastácio Vasques - trombone; Américo José de Faria - trombone; Benedito de Oliveira - trompa; Antonio Bicudo - fagote;  Inácio Músico - clarinete; Luís Barcellos - bumbo; Rafael de Souza - pratos; João Homem de Mello - cantor; Teodoro Vieira - cantor; Jeremias Gomes de Araújo - cantor; João Pimenta - cantor.
Athayde cita que essa corporação teria funcionado até 1876, "ano em que faleceu seu diretor João Pimenta", no entanto, na mesma informação, acrescenta que "continuou mais alguns anos sob a direção do capitão Benedito Gomes.
João Pimenta
Também em Athayde encontramos alguns dados biográficos do músico João Batista de Oliveira. Era natural de Pindamo-nhangaba, nascido em 24 de maio de 1808. Foi  músico  e compositor sacro.  Na banda foi  mestre de capela de 1846 até as vésperas de sua morte, em 1863. Entre os cargos públicos que ocupou, Athayde cita o de arrecadador de impostos de café, estabelecido pela Câmara em 1885. Escreveu músicas sacras, que eram executadas nas festas religiosas realizadas na igreja matriz. Vítima de uma congestão pulmonar, morreu no dia 21  de agosto de 1876. 
Com a morte  do maestro João Pimenta, a Euterpe, que, conforme Martins de Almeida, teria passado a ser identificada com o nome deste músico devido à reorganização que o mesmo fizera em 1848, obje-tivando sua sobrevivência (embora Athayde registre esta passagem como o surgimento de uma nova corporação musical), a direção da banda passou a ser do também maestro José Maria Leite, falecido em 1896.
Outras reorganizações da Euterpe são citadas por Martins de Almeida, destacando a de 1903, quando assumiu a banda o maestro João Antonio Romão depois de ter vencido   numa eleição disputadíssima,  seu antigo professor, o músico José Maria Pires,  por apenas um voto de diferença. Nessa passagem, o diretor da Euterpe, que era Américo José de Faria (na época, também diretor do jornal Tribuna do Norte), a conselho do dr. Francisco Romeiro, irmão do fundador da Tribuna e na ocasião  prefeito de Pindamonhangaba, conseguiu reunir o grupo  de músicos que ameaçava dispersar-se.
João Antonio Romão, por conta dos inúmeros compromissos que tinha, a maioria ligados à música, teria, nesta reorganização, conforme o registro de Martins de Almeida, passado a regência da Euterpe a seu irmão, José Benedito Romão, o Juca. Este Romão a dirigiu até 1954, quando, sentindo-se adoentado, deixou o cargo e  um ano depois  veio a falecer. Durante a enfermidade do maestro Juca Romão  a banda foi dirigida por diversos componentes, entre estes Agenor Ferreira e Arthur dos Santos.
Martins de Almeida cita ainda uma reorganização ocorrida em 1948, elogiando o dr. Leão Borges, médico e oficial do Exército como  o reorganizador que, "através de vitoriosa campanha, deu lhe novo instrumental e vistosos uniformes".  Também é mencio ado por Martins de Almeida o apoio do dr. Caio Gomes Figueiredo, em 1954,  quando era prefeito e "foi feliz em convidar o major Aguinelo Lacerda" para assumir a direção da Corporação Musical Euterpe.
Outras ações favoráveis à permanência da Euterpe, enriquecendo a cultura praticada em Pindamonhangaba, ocorreram depois que João Martins de Almeida escreveu sua crônica. Outros idealistas 'brigaram' por ela e trabalharam por melhorias e fortalecimento desta corporação musical. A Euterpe sobrevive, portanto, sua história continua e a qualquer edição da Tribuna poderemos retornar ao assunto para registrarmos os fatos e feitos de outros benfeitores da gloriosa corporação.
Quem fundou a Euterpe?
Para João Martins de Almei-da, fonte mencionada no início da matéria, "ignora-se qual o verdadeiro fundador da Euterpe". O cronista dizia que "fontes não destituídas de crédito", afirmavam que Joaquim Gomes de Araújo era quem a havia organizado e a dirigido inicialmente. Martins de Almeida considerava justa tal afirmação, levando-se em conta que o filho de Joaquim Araújo, chamado Benedito Gomes de Araújo (pai do maestro João Gomes de Araújo), nascido em 4 de outubro de 1818, havia colaborado com João Pimenta na reorganização da Euterpe de 1848. "Naturalmente desejando que não perecesse a obra de seu pai, o velho Joaquim Gomes de Araújo, tronco de enorme família, de notáveis músicos de Pindamonhangaba", supunha Martins de Almeida. 

Fonte : http://www.tribunadonorte.net/noticias.asp?cod=4&edi=129

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